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Segunda-feira

21h40

Já era dezembro, o calor estava forte e o sol intenso, assim como a ansiedade da família pela chegada de um novo integrante. A contagem para o natal, a data mais esperada do ano por eles, estava quase no fim e faltavam somente alguns dias para o Papai Noel visitá-los. Contudo, mais do que a chegada ilustre de um famoso como ele, era o nascer de um novo dia e a esperança que parecia transbordar nos corações dos pais e da irmã.
O novo integrante, mesmo ainda sem ter dado as caras, era inquieto e insistia em lembrar que estava ali. Em um espaço aconchegante ficou até a sua chegada. Sua presença era iminente e todos sabiam que logo ele viria se apresentar.
As luzes piscavam a noite e a árvore de natal estava linda, mas não era somente a casa da família que estava preparada para a chegada do dia 25 de dezembro. Havia um outro espaço na residência decorado com amor, carinho e cuidado.
Faltavam cinco dias para o Natal e a espera chegou ao fim. Era uma tarde ensolarada, mais precisamente, na hora do almoço. A irmã não conseguia segurar a ansiedade em conhecê-lo. Olhando para o teto, ela esperou a tarde toda, e ao anoitecer, alguém bateu na porta da sua casa. Ao atender, um sorriso surgiu em seu rosto. Ela queria segurá-lo. Era seu irmão que tinha acabado de chegar ao mundo. O natal daquele ano foi muito especial para eles, pois o presente já tinha chegado e estava vestido de Papai Noel.

Por Flávia Motta

Crônicas de Natal #1

Terça-feira

8h

Era uma noite quente de Natal e o clima de verão não dava trégua. Para a cidade em que moravam duas irmãs, os avós e os pais era estranho o calor que fazia naquele ano. Contudo, mesmo com o tempo fora do comum, o que nunca mudava era a tradição de ir à missa sempre que chegava o dia da grande ceia, que mesmo sem ter grande fartura de comida, não tinha falta de amor e união.

E assim se seguiu, as duas irmãs e a vó andaram da sua casa até o ponto de ônibus a caminho da igreja. No trajeto, a cidade estava toda iluminada, decorada e até os outdoors demonstram a magia de um dos dias mais especiais do ano.

Fizeram suas preces e foram abençoadas pelo padre. Na saída, as irmãs já estavam ansiosas para chegar em casa. Hora de ir embora. Caminharam até o ponto e encontram alguns desconhecidos que também estavam esperando para voltar para suas famílias. Alguns segundos se passaram, alguns minutos e até uma hora já se foi desde que chegaram ali e até aquele momento nada do ônibus. A avó conversava com as irmãs que já estavam impacientes pela demora.

O relógio marcava meia noite. Onde estava aquele ônibus?. Não sabiam. Desconfiaram que talvez pelo dia os horários poderiam ter sido alterados.

A comida poderia esperar e os presentes também, mas quando fosse uma da manhã a magia da ceia já não seria a mesma. No dia seguinte viraria almoço de natal, mas o momento do jantar em família já teria passado. E passou.

Naquele ano o Natal foi assim: no escuro, com as luzes fracas da rua e não das velas que decoravam a mesa de jantar. Com o calor e o vento leve que soprava da rua para seus rostos. Sem problemas, o Natal ainda continuou na manhã seguinte, mas a ceia e a espera para dar meia noite e atacar a mesa cheia de doces e salgados feitos uma vez no ano, passou. Mesmo com ônibus que chegou depois do Papai Noel, a felicidade e a alegria não adiaram a tristeza de ter perdido a hora da ceia.

Era um novo dia e desta vez as duas irmãs estavam pontualmente na sala de estar de sua casa. Sem adiar nenhum minuto, foram até a árvore de natal e pegaram seus presentes. Desta vez, sem atrasos e prontas para aproveitar o dia todo com seus novos brinquedos.

Por Flávia Motta

Crônicas de Natal #2

Quarta-feira

10h

Para muitos, aquele tipo de Natal não era mágico. No dia 25 de dezembro não havia ceia, troca de presentes e nem os primos pequenos que esperam pelo Papai Noel, prometendo terem se comportado o ano todo. O Natal que se passava, realmente acontecia em um carpete mofado, com cadeiras vazias e cheiro de fast-food. Com pessoas estranhas, nunca vistas, mas que coincidentemente tinham um destino em comum. Uma voz onipresente anunciava: “Chamada para o voo 176 com destino a Nova York, comparecer ao portão 2”. Mais de duas horas de atraso pela nevasca, bem em dia de Natal. Para alguns a neve é uma benção, para outros, nem tanto.  

No aeroporto quase deserto só era possível perceber a data festiva pela guirlanda desajeitada na porta de embarque e os desejos de boas festas dos poucos funcionários que restaram, apenas querendo ir para casa. Tirando isso, era um Natal tão bom quanto daqueles que passavam em volta de uma lareira decorada com enfeites.

Faltava quase tudo que se preze em um natal tradicional: comida, familiares distantes, união de vozes em volta da árvore de Natal. Mas aquele era sim um Natal mágico. Era um Natal de aventuras, de experiência e mesmo com os problemas de conexão e o cheiro do chão engordurado de aeroporto, era perfeito. A noite ia ser incômoda, em uma cadeira apertada, com um cobertor, que mais era uma flanela e cheiro de naftalina. Mas ia ser uma noite nas nuvens, literalmente. Enquanto as famílias dormiam céu abaixo, a aventura começava lá em cima.

Com suas maneiras peculiares, olhos cansados de viajantes, espíritos jovens. Esses eram os aventureiros do Natal, os que se arriscam no mundo, deixam a família e não ceiam no dia 25. Não esperam por presentes, apenas aventuras. Diferentes de muitos, felizes como poucos.

Por Flávia Motta

Crônicas de Natal #3

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